Sangue ruim

maio 29, 2011 § Deixe um comentário

Agora já posso comprovar minha estadia africana. Tive malária e as minhas doações quadrimestrais de sangue são coisa do passado. É só aqui nos Camarões mesmo, onde todos já tiveram o paludismo, que meu sangue ruim é bem-vindo. Nada daquilo que a gente aprende na escola brasileira: ciclos de 48 ou 72 horas. Aqui os protozoários já não são os mesmos desde os anos de 1950, quando em toda a África subsaariana distribuiram-se remédios gratuitamente, mas sem acompanhamento de um trabalho de conscientização. Por causa do projeto, durante quase dez anos a malária deixou de representar a doença tropical que mais mata por essas bandas. Mas a felicidade durou pouco devido ao uso indiscriminado do medicamento: uma febre aqui ou uma enxaqueca ali e…, ops!, “vamos tomar o remédio que dão de graça no posto”. Hoje os ciclos de febre e tremedeira têm em média 4 horas e os medicamentos que combatem a malária são altamente tóxicos, a tal ponto que com os comprimidos você fica pior do que antes – felizmente só por algum tempo. Hoje, segundo o Ministério de Saúde Pública dos Camarões, quase 50% das consultas médicas ocorrem em função do paludismo, assim como 23% das hospitalizações, 26% das licenças médicas e 40% das mortes de crianças com menos de 5 anos (e atenção: os dados nacionais nem sempre apontam para a gravidade de tudo o que acontece por aqui).

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