Antologia negra de Blaise Cendrars

abril 7, 2011 § Deixe um comentário

Depois de horas e horas de trabalho na Biblioteca Nacional, o escritor suíço Blaise Cendrars publicou em 1921 uma Anthologie nègre, que reunia fábulas, lendas e contos orais africanos agrupados por temas representativos. É a partir de então que a documentação que dormia nos arquivos, considerada material etnográfico trazido por missionários e colonos, ganha contornos de obra de arte e de texto lírico. Hoje esse livro é facilmente encontrado em livrarias, diferentemente de seu Les petits contes nègres pour les enfants des blancs, de 1928. Abaixo estão dois excertos da antologia, selecionados pelo espanto de encontrar nas histórias folclóricas e populares da África negra alguns núcleos mitológicos ou arquetípicos que falam de muito perto ao homem branco e ocidental.

*

De “A lenda das origens”, conto fân

Mas Nzamé quis fazer ainda melhor, e os três fizeram uma criatura quase semelhante a eles, um deu-lhe a força, o outro a potência, o outro a beleza. Depois, os três:

“Toma a terra, disseram, você é a partir de agora o mestre de tudo o que existe. Como nós, você tem a vida, todas as coisas lhe estão submetidas, você é o mestre.”

Nzamé, Mébère e Nkwa subiram de volta para o alto de sua mansão, a nova criatura ficou sozinha aqui em baixo e tudo lhe era obediente.

[…]

Nzamé, Mébère et Nkwa tinham nomeado o primeiro homem Fam, o que quer dizer a força.

Orgulhoso de sua potência, de sua força e de sua beleza, porque ele ultrapassava nessas três qualidades o elefante, o leopardo e o macaco, orgulhoso de vencer todos os animais, essa primeira criatura deu errado; ela tornou-se orgulho, não querendo mais adorar Nzamé, desprezava-o:

Iêiê, ó!, iêiê.

Deus no alto, o homem na terra!

Iêiê, ó!, iêiê.

Deus é Deus,

O homem é o homem,

Cada um com a sua casa, cada um no seu lar!

Deus escutou esse canto. Ele prestou atenção: “Quem canta? – Procure, procure, responde Fam. – Quem canta? – Iêiê, ó! ah, iêiê. – Quem canta agora? – Ei! Sou eu”, grita Fam.

Deus, pura cólera, chama Nzalân, o trovão: “Nzalân, vem!”

E Nzalân veio com muito barulho: Buum, buum, buum! E o fogo do céu abraçou a floresta. As plantações que queimam, perto daquele fogo lá, são como uma tocha de especiarias. Fuíííííí, Fuíííííí, fuíííí, tudo em chamas. A terra era como hoje coberta de florestas: as árvores queimavam, as plantas, as bananeiras, a mandioca, até os amendoins, tudo secava; animais, pássaros, peixes, tudo foi destruído, tudo estava morto: mas por desgraça, ao criar o primeiro homem, Deus lhe tinha dito: “Você não morrerá nunca”. O que Deus dá não retira. O primeiro homem foi queimado; o que ele virou? Eu não sei de nada; ele está vivo, mas onde? Meus ancestrais nunca me disseram ; o que ele virou? Eu não sei de nada, esperem um pouco.

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De “A hiena e a mulher”, conto kimadjamé

A mulher fugia sempre, ela chega a um grande rio; as hienas a perseguem. Ela quer se lançar, as hienas gritam: “Espera, mulher do rei!”

A mulher cospe no rio, bate com um bastão, as águas se separam: uma parte no alto, a outra embaixo. As hienas querem passar também, mas quando chegam no meio as águas se fecham em abundância e as submergem.

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